Caixa d'água do Pacheco, em Ilhéus. Beleza e abandono.

Desativada, restou a bela e excêntrica arquitetura.

TRANSCENDEU

5/24/2023

Inaugurada no início da década de 70, junto com a criação da Embasa, a obra marcou uma geração.

Foto: Marcos Bezerra/TranscendNews

Localizada no bairro do Pacheco, com capacidade para 500 mil litros de água, a imponente obra foi inaugurada no início da década de 70, em Ilhéus. A caixa d'água já fez parte de muitas conversas entre amigos e curiosos pelo seu formato peculiar. Alguns diziam se tratar de um disco voador camuflado. Outros a comparavam a um cogumelo ou a um troféu. Erraram os que pensavam assim.

Nossa reportagem buscou informações junto aos escritórios da Embasa (Empresa Baiana de  Águas e Saneamento S/A), em Ilhéus e Itabuna, mas a empresa não dispunha de dados precisos e passou informações extraoficiais sobre a caixa d'água, tipo: quando foi inaugurada (1970), desativada (1990) e altura (aproximada de 35 m).

Tudo indica que quem elaborou o projeto se baseou nas criações de um ilustre paranaense, que por sua vez, buscou inspiração na natureza.

Foto: Arquivo/TG

O engenheiro e arquiteto curitibano, Gerhard Leo Linzmeyer, se inspirou na árvore predominante no Sul do Brasil, principalmente no Paraná: a araucária. Especializado em obras de cunho sanitário e de tendência modernista, Gerhard encarou o desafio, afinal o tronco da araucária comporta apenas o peso de galhos, folhas e frutos. Já no caso de uma caixa d'água, a sustentação central teria que dar conta de toneladas de concreto e armações de aço, além de cerca de meio milhão de litros de água armazenada. Seriam necessários cálculos complexos para dimensionar a obra. E ele obteve sucesso. Antes mesmo da criação do desenho arquitetônico que remete à araucária, Gerhard elaborou, na década de 50, um projeto que trazia o conceito do que viria depois: uma coluna (fuste) sustentando uma enorme cuba. Era a caixa d'água da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) na cidade de Rolândia.

Caixa d'água de Rolândia (PR)

Foto: Arquivo/Sanepar-PR

Gerhard deixou sua marca também no coração do país. Ceilândia e Taguatinga, no Distrito Federal, foram agraciadas. Os dois monumentos têm a mesma altura (27m) e mesma capacidade (500 mil litros). De acordo com matéria da TV Globo, divulgada no g1. Sendo assim, Ilhéus não é a única cidade brasileira a ter uma caixa d'água com projeto bem parecido.

Caixas d'água de Ceilândia e Taguatinga

Foto: Reprodução/TV Globo

Em Ceilândia, o reservatório foi inaugurado em 1977. Foi reconhecido oficialmente como patrimônio histórico do Distrito Federal, em 2013. É um símbolo estampado na bandeira da cidade e no escudo do time local. Já em Taguatinga, o monumento não tem o mesmo glamour, mas a Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal) mantém a caixa pronta para ser usada como plano B, em caráter emergencial. Nota-se pela foto que a aparência é de uma obra conservada.

A Embasa também construiu na cidade de Feira de Santana, na Bahia, uma caixa d'água quase semelhante à de Ilhéus. O reservatório feirense foi inaugurado no ano de 1984, foi considerado o segundo maior do país, com capacidade para 3.900.000 litros e altura de 30 metros. Apesar de ter uma estrutura mais nova, a caixa d'água do Tomba (bairro de Feira de Santana), também se encontra desativada, de acordo com reportagem do site Acorda Cidade.

Caixa d'água do Tomba - Feira de Santana

Foto: Paulo José/Acorda Cidade

Diferente das "irmãs gêmeas" do Distrito Federal, a caixa d'água do Pacheco, foi desativada pela Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento) devido a problemas estruturais e pela modernização do sistema de distribuição de água, que passou a utilizar boosters (bombas d'água) para levar água aos locais mais elevados. Desde então, não foi feita a manutenção adequada por parte do poder público para conservar e aproveitar a linda arquitetura do monumento. Uma pintura e iluminação realçariam a beleza desta obra que continua de pé mostrando uma imponência que pode ser contemplada de vários pontos da cidade, se sobressaindo acima das copas das árvores.

Foto: Marcos Bezerra/TranscendNews

Vale lembrar que a Prefeitura de Ilhéus assinou, em agosto de 2018, na primeira gestão do atual prefeito Mário Alexandre, contrato de 30 anos com a Embasa para gestão associada dos serviços de distribuição de água e de esgotamento sanitário na cidade. Dentre as obrigações do município explicitadas na minuta do contrato estão: declarar, em caráter de urgência, bens imóveis de utilidade pública para desapropriação ou instituição de servidão administrativa para a empresa realizar os serviços necessários e; repassar à Embasa todos os recursos financeiros (inclusive financiamentos) destinados aos serviços, assim como os bens de quaisquer entidades públicas, privadas, nacionais e internacionais. Consequentemente, os dois órgãos são responsáveis pela conservação do monumento.

A araucária, fonte inspiradora, vive cerca de 200 a 300 anos. As caixas d'água projetadas já são cinquentenárias. A de Ilhéus tem praticamente a mesma idade da EMBASA, que completou no último dia 11 de maio, 52 anos. Não custaria muito aos responsáveis dispensarem uma atenção adequada para prolongar a existência de tão lindas e excêntricas obras.

Foto capa: Danilo Matos/Ilhéus24h

Por: Marcos Bezerra/TranscendNews

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