Era necessário cancelar o Viva Ilhéus?
A cidade turística não consegue manter calendário de festejos.
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Alguns políticos, ao darem prosseguimento a projetos de sucesso, mudam o nome dos mesmos por pura vaidade e politicagem para não enaltecer seu antecessor da oposição. Na verdade é algo comparado à birra de criança. Enfim... para eles, dane-se a tradição e o calendário festivo de uma cidade com extrema vocação turística. Em Ilhéus, por exemplo, o Aleluia Ilhéus, evento alusivo à Semana Santa, já não é realizado há alguns anos.
No dia 27 de abril, o prefeito de Ilhéus Mário Alexandre, anunciou o cancelamento do Viva Ilhéus 2023, evento que seria incluso nas comemorações dos 489 anos de história da cidade. No auge do evento, além de várias atrações musicais, durante os três dias de festa, eram realizadas exposições literárias e de negócios, espetáculos teatrais e religiosos. Em algumas noites, o público ultrapassava mais de 50 mil pessoas na Avenida Soares Lopes. Auxiliar as vítimas das fortes chuvas do feriado de Tiradentes foi a justificativa para o cancelamento do evento este ano. Uma nobre atitude. O cidadão ilheense fica em dúvida de qual é o valor financeiro da participação do município na realização do evento, já que o Governo do Estado, através da Bahiatursa, disponibiliza uma considerável ajuda (banca as principais atrações) ao ponto do prefeito de Ilhéus declarar, em 2019, que sem essa ajuda estadual, a festa ficaria impossibilitada de acontecer.
Por outro lado, todo município que tem passado por algum tipo de calamidade pública tem recebido ajuda do Governo Federal e do Governo da Bahia, como ocorreu nas enchentes de 2021. E o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) garantiu R$ 1.590.000,00 (um milhão, quinhentos e noventa mil reais) ao município ilheense. O Governo do Estado enviou ajuda humanitária, como cestas básicas, colchões e material de higiene.
Analisando o evento e os preparativos para a realização do mesmo, centenas de pessoas são incluídas numa cadeia econômica que envolve empregos diretos e indiretos. Sá para montagem do palco e estruturas são necessários cerca de 40 trabalhadores. Nos dias de festa, vendedores ambulantes ganham seu dinheiro, restaurantes, lanchonetes, rede de hotéis e pousadas aumentam o faturamento, junto com os taxistas, motoristas de aplicativos e motoboys. Sem falar na oportunidade para os músicos e bandas locais.
A vizinha cidade de Itabuna, que, na economia, apresenta pontos fortes nos setores de comércio e serviços, tem se dedicado mais a manter as tradições culturais e festivas. Os itabunenses tiveram a lavagem do Beco do Fuxico e um carnaval antecipado este ano. O Prefeito Augusto Castro, já fez o lançamento do ItaPedro 2023, na quinta-feira (25), anunciando grandes atrações nacionais, a exemplo de Dorgival Dantas e Wesley Safadão.
O descaso com as tradições culturais da cidade vem acontecendo há muitos anos, gestão após gestão. O carnaval antecipado que atraía milhares de turistas já se foi, junto com o enfraquecimento dos blocos de arrastão e dos blocos afro que não têm mais o apoio adequado. Apenas alguns festejos religiosos conseguem manter a tradição, como a Puxado do Mastro de São Sebastião, em Olivença e os festejos de Iemanjá, apesar das dificuldades. Os outros seguem uma Via Crucis traçada por aqueles que não conseguem entender a importância da cultura e do calendário de festas em uma cidade como Ilhéus, que nasceu pro turismo, mas alguns dos seus gestores não ajudam a carregar a cruz e ainda ferem com lança quem já agoniza.
Tudo leva a crer que os gestores da "Princesa do Sul" querem transformar a cidade numa referência para retiro e repouso. Para disfarçar a vergonhosa situação com o setor cultural, a Prefeitura de Ilhéus, com o apoio do Governo do Estado, realiza nesse final de semana, dias 27 e 28, a segunda edição do Festival Ilhéus in Jazz. O caminho do jazz para o jaz ´´e curtíssimo no município. O cidadão está a observar se o evento vai virar tradição ou se vai entrar para o grupo dos enterrados com suas lápides: "Aqui jaz o Ilhéus Folia (Um dos maiores carnavais antecipados do país)"; "Aqui jaz o Aleluia Ilhéus"; "Aqui jaz o Viva Ilhéus"; "Aqui jaz a Festa do Cacau"; etc... em breve, vai ficar difícil realizar o aforamento de um jazigo nesse cemitério das tradições culturais ilheenses.
Por: Marcos Bezerra/TranscendNews