Redes Sociais: termômetro para a corrida eleitoral nas cidades?

As grandes plataformas sociais, hoje, podem rivalizar com as empresas e institutos de pesquisa credenciados?

DESTAQUESNOTÍCIAS

Marcos Bezerra/TranscendNews

9/29/2024

A Influência das Redes Sociais nas Eleições Municipais

No mundo contemporâneo, as redes sociais se tornaram ferramentas cruciais na comunicação e interação entre candidatos e eleitores. Mas será que esses canais digitais podem servir como um parâmetro ou termômetro na análise da corrida eleitoral nos municípios? A resposta a essa pergunta envolve uma análise profunda das dinâmicas sociais e políticas que permeiam as plataformas online.

Vale ressaltar que muito antes do advento da internet, a política já utilizava a disseminação de notícias falsas e boatos entre a população. Aquele "disse me disse" que estamos vivenciando nos dias de hoje: fulano vai ser vice de cicrano, beltrano vai desistir da candidatura. A velha central de fake news que ninguém assume o cargo.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do relatório Digital 2024: Brazil, cerca de 14% da população (30 milhões) não têm acesso à internet e que 33,7% não têm perfis em redes sociais. Grande parte da população (72%) está apta a votar (156 milhões de eleitores).

A ação de um usuário de uma rede social ao curtir as publicações de determinado candidato a prefeito, deve ser considerada como provável intenção de voto naquele candidato. O eleitor internauta, convicto de suas escolhas, não vai curtir as postagens de um candidato que não vai receber o seu voto. Também o usuário não poderá curtir certa publicação mais de uma vez. Só poderá deixar de curtir.

O Impacto das Mídias Sociais nas Campanhas

A presença marcante das redes sociais nos dias de hoje proporciona uma nova arena para campanhas eleitorais. Candidatos utilizam plataformas como Facebook, X e Instagram para se conectar com o público, divulgar propostas e responder a perguntas de eleitores. Para muitos, esses meios digitais se tornaram uma maneira essencial de medir a popularidade e o engajamento em tempo real, o que pode influenciar a percepção da corrida eleitoral nos municípios. Para o eleitor, é possível ter uma ideia de como está a disputa local.

Claro que existem variáveis que não podem ser mensuradas na análise das redes e que alguns dados podem estar distorcidos, a exemplo do número de seguidores, já que é possível aumentar a quantidade através de compras. Outros usuários podem seguir determinada conta apenas para bisbilhotar ou espionar. É preciso considerar ainda a utilização de robôs (bots), que acabam criando falsas tendências.

Cabe às big techs aumentar a segurança em suas redes, principalmente no cadastramento de um novo usuário, exigindo, por exemplo, um reconhecimento facial. E essa medida poderia ser estendida a todas as contas da plataforma. Mas parece que ostentar o aumento do número de usuários é o maior interesse dos diretores das big techs.

Se nas redes sociais existem todas essas questões que reduzem a credibilidade dos dados analisados quanto ao posicionamento dos candidatos na disputa em questão, será que as pesquisas eleitorais feitas por institutos e empresas credenciadas mostram com certeza o real cenário do pleito eleitoral? Claro que não. Manipular pesquisas é um recurso utilizado por alguns para tentar influenciar mudança de comportamento do eleitor. Empresas pesquisadoras são denunciadas e punidas por isso. E algumas vezes já vivenciamos uma pesquisa dar como certa a eleição de determinado candidato e a realidade das urnas, no dia da votação, estampar na cara do mesmo o carimbo da derrota.

Existe a questão de uma coligação encomendar pesquisa e não divulgá-la. Depois, alega o alto custo para registrar a pesquisa. Mas o dinheiro do fundo partidário está aí e é derramado nas campanhas em carreatas, caminhadas, aparentando uma grandeza de apoio ao candidato, quando, na verdade, grande parte das pessoas que carregam bandeiras, cantam e dançam está sendo paga. Muitas vezes, o candidato não tem interesse em tornar público o resultado da pesquisa pelo simples fato de não estar liderando.

É preciso considerar também que o processo eleitoral é dinâmico e que um fato novo pode mudar todo o aspecto da corrida e posicionamento dos candidatos em determinado momento. O que aconteceu esta semana, em Ilhéus, é um bom exemplo: uma operação da Polícia Federal que investiga crimes de corrupção, desvio de recursos públicos, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. A operação representou a morte da campanha do candidato da situação, que já amargava um alto índice de rejeição.

Analisando Engajamento e Opinião Pública

As interações nas redes sociais, como curtidas, compartilhamentos e comentários, não apenas refletem a atividade dos eleitores, mas também podem ser vistos como métricas do interesse e da aceitação das candidaturas. Essa exposição pode ser considerada um poderoso termômetro em épocas eleitorais. Ao monitorar o que está sendo dito nas redes, analistas e especialistas podem captar tendências e sentimentos do público que, de outra forma, poderiam passar despercebidos nas pesquisas tradicionais.

O TranscendNews analisou uma das plataformas mais utilizadas (Instagram), em 3 cidades da Bahia, para colocar à sua disposição, caro leitor, os dados obtidos. Então, você poderá fazer suas observações e, juntos, aguardaremos o próximo dia 06 de outubro para que possamos comparar o resultado das mídias sociais aqui mostrado com o resultado final das urnas eletrônicas.

Foram consideradas 6 publicações de cada candidato, 2 de cada período, até o último dia 26 de setembro, feitas em 24 horas, há 2 dias e há 7 dias, nas quais não apareciam apoiadores de peso e nem continham ataques a adversários ou imagem dos mesmos. Foi encontrada a média de curtidas das publicações nesses períodos.

Salvador

Na capital baiana, segundo pesquisa Quaest, publicada no dia 17 de setembro, dois candidatos (Bruno Reis e Geraldo Júnior) somavam 80% das intenções de voto. O candidato à reeleição, Bruno, estava com 74% e Geraldo Júnior com 6%. Logo, os outros concorrentes completavam os 20% restantes.

Pela análise no Instagram, mesmo consideradas as margens de erro e a ausência de algumas variáveis, Bruno Reis se reelege facilmente na capital. Ele manteria uma boa frente (68%), um pouco menor que a divulgada pela pesquisa, mas, ainda assim, considerável. Enquanto Geraldo Júnior teria um pequeno crescimento (12%). Claro que é preciso observar - como nós economistas consideramos - um cenário sob a condição "ceteris paribus", ou seja, se tudo o mais permanecer constante até o dia da votação. Seguidores a parte: Bruno Reis tem 591 mil e Geraldo Júnior 290 mil.

Itabuna

O sétimo município mais populoso da Bahia, teve pesquisa divulgada em 16 de agosto. A referida pesquisa AtlasIntel/A TARDE, colocava o atual prefeito, Augusto Castro, com larga vantagem para a reeleição (45,7%). Uma outra pesquisa seria divulgada este mês de setembro, mas a empresa do Espírito Santo foi impedida, devido a irregularidades na elaboração. Contudo, com base nas observações na rede social Instagram, vamos considerar a polarização entre Augusto Castro e o deputado estadual, Fabrício Pancadinha.

Augusto tem 55.100 seguidores, enquanto que o deputado tem 90.500. Mas vamos nos ater ao engajamento nas publicações de ambos. O atual prefeito apresentou uma média de 1.584 curtidas e o deputado de 1.379.

Vamos considerar um cenário atual no qual Augusto tenha perdido um pouco da preferência do eleitorado desde a pesquisa de agosto e que o candidato Fabrício tenha crescido. Assim, o prefeito estaria com 40% da preferência (seria reeleito de forma inédita na cidade) e o deputado estaria com 35% das intenções de voto. Dentre os 25% restantes estariam os indecisos, os que vão anular ou votar em branco e os que vão votar nos outros candidatos. Lembrando que os indecisos e a parcela (mais de 30%) da população que não têm acesso à internet ou que não têm perfis na rede social podem mudar toda a situação. Fica a pergunta: será que Itabuna vai reeleger um prefeito pela primeira vez em sua história?

Ilhéus

Sem pesquisa divulgada oficialmente até o fechamento da matéria, Ilhéus mostra a seguinte situação, após análise dos perfis dos candidatos no Instagram:

Classificando pelo número de seguidores (o que não diz muito devido à possibilidade de compra de seguidores, como já frisamos), a candidata Adélia Pinheiro tem 27.600 seguidores, Valderico Júnior tem 22.900, Bento Lima aparece em terceiro com 10.900 e Coronel Resende em quarto com 2.721.

Na média das curtidas, a candidata Adélia ficou com 40%, Valderico com 30%, Bento com 25% e Coronel Resende com 5%. Este último, desistiu de concorrer e protocolou a desistência neste sábado, dia 28. Com um apoio informal ao candidato Valderico Júnior, espera-se que a disputa fique ainda mais acirrada. Na cidade cenário das obras de Jorge Amado, a grande pergunta é: será que o PT (Partido dos Trabalhadores) vai eleger pela primeira vez um prefeito? E mais...Ilhéus vai eleger uma mulher pela primeira vez em sua história? As urnas darão a resposta no dia 06 de outubro.

O TranscendNews não pode fechar os olhos para um importante detalhe: o fato da pressão exercida por quem está no poder sobre os contratados e servidores públicos. Em muitos casos, são obrigados a participar de caminhadas, carreatas e interagir nas redes sociais, o que vai causar distorção nos dados apresentados pela análise.

É preciso ter cautela

Por fim, é importante ter em mente que as redes sociais apresentam limitações. Elas oferecem uma visão do clima eleitoral. É essencial ponderar essas informações com cautela, complementando-as com dados mais tradicionais, como pesquisas de opinião.

Com a combinação do engajamento digital e análises mais abrangentes, podemos chegar a uma compreensão mais precisa do cenário eleitoral em curso.

Por: Marcos Bezerra/TranscendNews