Reflexão na euforia. Nada contra o progresso. Mas...

Até que ponto deve-se comprometer a qualidade de vida das nossas futuras gerações?

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5/11/2023

Replan - Maior refinaria da Petrobrás, em Paulínia-SP

Foto: Jornal do Comércio

Em 28 de abril deste ano, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia anunciou a vinda para Ilhéus, de uma refinaria de petróleo da gigante brasileira, Noxis Energy. Um investimento previsto de R$ 5,3 bilhões, gerando 3.600 empregos na fase de implantação e 600 empregos diretos e indiretos na operação e com capacidade de produzir mais de 5 milhões de toneladas de combustíveis por ano, como gasolina A, gás liquefeito de petróleo (GLP), diesel automotivo e marítimo e combustível marítimo (bunker). Será o maior investimento industrial que a cidade receberá em toda sua história.

Com previsão de início das obras em 2024, a refinaria da Noxis Energy, sem dúvida alguma, vai aumentar a renda per capta no município. O ponto negativo é que o petróleo é uma fonte não-renovável altamente poluidora. Cabe a cada cidadão ilheense refletir sobre os impactos ambientais que uma refinaria de petróleo causa. Costumo dizer que o capital privado usado sem bom senso, de forma inconsequente e sem as rédeas do gestor público, se torna um devorador de mundos. Basta observar a situação atual no nosso planeta: efeito estufa e alterações climáticas. A nível local, há poucos dias, aconteceu protesto de cidadãos contra a cessão, por parte da Prefeitura, de mais uma praça para a parceria público-privada.

A matriz energética mundial está mudando, aos poucos, mas o petróleo ainda responde por mais de 40% das fontes utilizadas. A construção de mais uma refinaria de petróleo, vai na contramão do aumento da participação de fontes de energia renováveis na matriz energética brasileira.

A escolha de Ilhéus não se dá por acaso. O modal da Fiol (Ferrovia  de Integração Oeste-Leste) com o Porto Sul é um modelo perfeito para receber o petróleo bruto e escoar a produção. Além do mais, a cidade litorânea foi abençoada pela natureza com rios e mananciais de água que abastecem ilheenses e a cidade coirmã, Itabuna. A Emasa (Empresa Municipal de Água e Saneamento) tem o seu principal ponto de captação de água bruta no distrito de Rio do Braço, em Ilhéus. Um dos pontos preocupantes diz respeito a essa questão.

Refinar petróleo é uma atividade que gera danos potenciais ao ambiente e à saúde das pessoas. A separação dos derivados demanda grande quantidade de água que, após usada no processo, estará com resíduos. Sem contar que gases nocivos são liberados na atmosfera. Estudos mostram que hidrocarbonetos do petróleo, tais como o benzeno, o tolueno e o xileno causam anemia, comprometem o sistema imunológico, causam mutações e são cancerígenos. Um risco para os trabalhadores da refinaria quando inalam essas substâncias.

De acordo com matéria do Jornal A Tarde, cidades do Recôncavo Baiano e da Região Metropolitana de Salvador, a exemplo de São Francisco do Conde, Madre de Deus e Candeias, exigiram da Petrobrás ressarcimento pelos danos causados ao meio ambiente, o chamado passivo ambiental, durante processo de venda da primeira refinaria do país, a Landulpho Alves, ao Grupo Mubadala Capital, que criou a Acelen. A refinaria está em atividade desde 1950.

Enfim, esse aporte financeiro para Ilhéus vai incrementar a economia local, mas também trará um ônus. É muito importante dedicar um tempo para visualizar em que condições estará o planeta, o país e a cidade para as gerações que virão.

Foto capa: Shutterstock

Por: Marcos Bezerra/TranscendNews